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Fotografia além da Golden Hour

18 de março de 2020

golden hour fotografia
No meio de um pálido e chuvoso dia, o arco-íris criou um equilíbrio perfeito para a paisagem

Olá pessoal, queria com essa postagem, dizer algumas coisas sobre interpretação da luz natural. E isso vai bem além da fotografia de cenas clássicas (e belas, sem dúvidas) na famosa golden hour.

Com certeza todo mundo, fotógrafo ou não, já perdeu as contas de quantas vezes se emocionou com um fim de tarde multi colorido, seja na cidade, na praia ou montanha. E creio que todos que leem aqui já fotografaram cenas assim, exaustivamente. Não há dúvidas que esse tema tema pode render ótimas fotos, mas minha ideia com este artigo é mostrar a vocês outras ocasiões, menos óbvias, mas que também propiciam grandes capturas. Porém, vamos começar pela clássica golden hour, para aos poucos, ampliarmos as possibilidades.

GOLDEN HOUR – A HORA MÁGICA

A primeira dica não poderia ser outra: aproveite sempre que possível, e aí eu digo, faça realmente o possível e o impossível para fotografar na luz que convencionalmente chamamos de “hora de ouro da fotografia”, ou a “hora mágica”.

Trata-se da luz nas primeiras horas que o sol ilumina o dia e também nas últimas horas, até alguns minutos depois do pôr do sol. Os horários variam de latitude pra latitude, assim como durante as estações do ano. Quanto mais perto do equador, menor a diferença entre a duração entre os dias e as noites. E por conseqüência, as variações de intensidades luminosas entre as estações são menores.

Assim, no nordeste do Brasil, em lugares como o Rio Grande do Norte, o sol se põe perto das 17:30, seja verão ou inverno. E nasce também muito cedo, geralmente antes das 5 horas. Mas no sul ou sudeste de nosso país isso varia bastante, até mesmo pelo horário de verão. Em geral, as 2 primeiras e as duas últimas horas de luz de cada dia são as melhores.

Pra ser rigoroso, a golden hour, propriamente dita, é aproximadamente aquela meia hora antes e depois do nascer do sol e analogamente, meia hora antes e depois do pôr do sol. E sendo bem técnico (sim, a fotografia de natureza é bastante técnica), oficialmente a golden hour é dada quando a elevação do sol no horizonte está entre -4° e +6°. Ou seja, o sol precisa estar bem baixinho no horizonte. Esta é a golden hour, ou hora mágica, ou hora dourada… como queiram.

É onde podemos perceber uma nítida tonalidade dourada na paisagem, pois a luz tem uma alta temperatura nesse horário, que deixa as fotos com cores vivas e agradáveis, texturas mais perceptíveis e sombras suaves.

Na grande maioria dos casos, é isso que um fotógrafo de paisagens procura. Luz quente e suave. Guarde isso. Se você quiser saber um pouco mais sobre a golden hour e também outras definições como blue hour, amanhecer e entardecer civil, náutico e astronômico, fiquem atentos aqui neste BLOG e um dos próximos textos será exatamente focado neste assunto, num artigo ilustrado, didático e detalhado!

UM POUCO DE FÍSICA

Outra observação importante (considerando localidades não muito próximas da linha do equador, por motivo já explicado acima) é que no inverno os períodos de luz considerada boa se dilatam. Ou seja, uma luz de 9 horas da manhã em pleno inverno no sudeste do Brasil é melhor que a mesma luz no verão. Você já parou para pensar porque isto ocorre? Sem entrar em muitos detalhes de física, vamos entender isto: no inverno, os dias são curtos e as noites longas.

Como o sol tem menos tempo para realizar seu percurso entre nascente e poente, mas obviamente não pode transitar mais rápido, o que acontece é que sua elevação máxima precisa ser menor. Se no auge do verão o sol alcança quase 90° de elevação, o que chamamos de sol a pino, no ápice do inverno, a depender da latitude em questão, sua altitude pode não chegar a metade disso. Alguns exemplos práticos para o hemisfério sul:

  • Na região central de Minas Gerais, em 21 de dezembro – o maior dia do ano – ao meio dia o sol atinge uma elevação de 86° graus, enquanto que no menor dia do ano, 21 de junho, ele só consegue subir até 47° no céu.
  • Em El Chaltén, no sul da Patagônia Argentina, no dia 21 de dezembro o sol atinge uma elevação máxima de 64° graus, enquanto que no menor dia do ano ele só consegue subir até 17° no céu. Ou seja, no inverno patagônico a luz é considerada suave desde o nascer até o por do sol. Mas no verão, a coisa muda bastante.

Nestes dois exemplos, ficou bem clara a diferença do comportamento da luz entre inverno e verão, além de evidenciar que esta variação é benéfica para a fotografia nas latitudes altas (distantes da linha do equador), pois o sol não consegue subir tanto, devido à inclinação do eixo de rotação da Terra.

Outra dica importante é dedicar um tempo suficiente numa locação fotográfica para acompanhar a mudança da luz. Especialmente na golden hour, em questão de minutos a luz varia drasticamente, possibilitando imagens bem distintas. Vejamos alguns exemplos do que foi acima dito:

EXCEÇÕES À REGRA

Agora vamos a algumas exceções: nem sempre é possível tirar todo proveito dessa luz. Em lugares montanhosos, de elevações abruptas como os Andes, Himalaias ou os Alpes europeus, no horário da luz mágica as regiões de vales muitas vezes estão imersas em grandes sombras, pois montanhas muito altas já taparam o sol. Aí, provavelmente precisaremos fotografar em horários intermediários, onde haja luz incidente nas paisagens que gostaríamos de captar.

Há outro caso onde fugimos completamente à luz dourada. Por exemplo, em momentos onde queremos captar as tonalidades de um mar azul, ou de um rio de águas cristalinas. Nesses casos, quanto mais perpendicular for a incidência da luz na superfície da água, mais cores captaremos em nossas fotos. Para esses casos, o uso de um filtro polarizador circular (PLC) é bem recomendável. Para saber maiores informações sobre filtros polarizadores e suas aplicações, clique AQUI, para acessar nosso artigo sobre este assunto.

Há casos também em que a melhor luz de uma paisagem pode estar camuflada na luz da lua. Seja no meio da noite, na sua calada, ou mesmo instantes antes de o dia nascer. Essas fotos são chamadas de noturnas e geralmente causam efeitos impressionantes. Bem, sobre fotografia noturna precisaremos de um capítulo a parte, em breve publicarei aqui algo sobre o tema. Aguardem!

Além disso, não raros são os casos em que o clima não se comporta como inicialmente planejamos, mas precisamos tirar proveito disto. Por exemplo, nos dias chuvosos ou nublados. Conheço muito fotógrafo que desiste quando a luz está pálida e o céu nublado ou preparando chuva. Mas eu posso dizer que dias assim, com muita frequência, podem nos surpreender positivamente.

Nos meus workshops e expedições, eu sempre digo aos viajantes: um céu nublado e uma luz difícil, geralmente possibilita fotos muito melhores que um dia de céu azul, quase ou sem nuvens. Densas camadas de nuvens podem adicionar uma boa dose de dramaticidade à sua foto. É muito comum, em dias assim, que o sol possa escapar, por alguns instantes, por frestas num céu fechado.

Às vezes é a própria chuva que vira protagonista em uma fotografia. As possibilidades são infinitas e persistência é palavra chave, pois na fotografia de natureza, a qualquer momento a luz pode mudar e isto pode ser a diferença entre uma foto fantástica e um mero registro.

FATOR CRUCIAL – QUANDO FOTOGRAFAR

Outra coisa muito importante também, é saber escolher as melhores épocas para se fotografar cada lugar. Por exemplo, se você viaja por Minas Gerais nos meses de outono e inverno, especialmente na região de cerrado, verá a maioria dos dias azuis, sem chuva alguma. Cada pôr do sol é mais impressionante que o outro. Pode ser uma ótima época para se fotografar paisagens.

No início da estação seca, por volta de abril, pode haver algumas poucas chuvas, mas os rios estão ainda com bom volume de água, o que é muito interessante para as fotos de cachoeiras. Já no fim dessa estação, por volta de setembro, o cerrado está completamente amarelo em alguns lugares e bastante seco, ou mesmo queimado, em outros. Fumaça de queimadas também são comuns, comprometendo nitidez e visibilidade na paisagem.

Já no nordeste do Brasil, no inverno chove e venta bastante. Você provavelmente não verá o mar tão belo quanto no verão.

Na Patagônia, o outono colore toda a paisagem de tons amarelos e vermelhos, como um quadro impressionista. Mas em contra partida, o número de dias de sol é menor que no verão. Além disso, faz bem bastante frio. Tudo tem seu preço.

Há ainda muitas outras nuances, com relação a comportamento de vida selvagem, épocas e rotas migratórias de aves, ocorrência de floração nos diferentes biomas, etc. Esteja sempre atento, pesquise previamente e programe-se. Por exemplo, nas planícies do Masai Mara, todos os anos, entre os meses de julho e agosto, acontece o espetáculo da migração, onde mais de um milhão de gnus deslocam para o vizinho Serengeti, buscando pasto fresco. No encalço destes animais, zebras, felinos, hienas e toda uma cadeia alimentar.


Bem, como conclusão, gostaria de salientar que disciplina e planejamento são as palavras chaves. Estar a postos no local a ser fotografado, no momento perfeito de luz, na época adequada a depender de seus interesses, é de vital importância. Desrespeitando essas premissas básicas da fotografia de natureza, você muito provavelmente não conseguirá as fotos que planejava, se frustrará e certamente fará muitos cliques perdidos.

E lembre-se: aquele incrível, florido e dourado campo de cerrado que você viu numa página dupla de sua revista de turismo predileta, provavelmente foi fotografado com planejamento prévio. Era uma primavera, às 6 da manhã, o tempo estava claro. Se você tentar a mesma foto ao meio dia e noutra época do ano, o resultado pode ser desastrosamente diferente. Portanto, caros fotógrafos de natureza, acordem cedo, fotografem até o meio da manhã, voltem no meio da tarde e, sobretudo, escolham os destinos de suas próximas viagens fotográficas de acordo com as especificidades de cada local. Fora isso, não há muito segredo.

Um grande abraço!

Pedra do Elefante - Serra do Cipó - MG

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