06 de abril de 2020
Panning e Zooming são dois efeitos muito interessantes, por aumentar a sensação de movimento e ação nestas imagens. Não são exatamente técnicas muito simples, mas com algum treino, várias tentativas e paciência, você chegará a resultados muito bons.
No post anterior, discutimos o Zooming. E agora, falaremos sobre o Panning.
Panning é quando congelamos (ou quase) um objeto que se move, mas preservamos no fundo a completa sensação deste movimento. É mais fácil explicar isto por imagens. Veja a foto a seguir:
As jovens guatemaltecas tem seus movimentos congelados, porém o fundo, que na verdade está imóvel, é que nos dá a impressão de movimento. Interessante, não ? Vamos à explicação: o segredo é acompanhar o movimento das garotas, tentando mover a câmera na mesma velocidade e sentido em que elas se deslocam. Assim, a velocidade relativa entre câmera e as jovens será nula (pois se movem juntas) e o fundo é que estará se movendo.
Se você se lembrar daquela aula de física onde se aprende sobre velocidade e referenciais, ficará mais fácil entender. É o mesmo caso do observador dentro de um trem, que vê pela janela a paisagem do lado de fora, mover-se rapidamente. Mas se olhar para dentro do vagão, seu companheiro de viagem, sentado na poltrona, está estático. Conclusão exatamente oposta terá um outro observador, do lado de fora. Este verá o trem movendo-se rapidamente e a paisagem parada. Enfim, questão de referencial. Vamos a outros exemplos, tentando mostrar outras aplicações.
O aspecto técnico mais importante para uma boa panning é a velocidade do obturador, que deve ser suficientemente lenta para borrar o fundo da imagem, porém garantindo que o assunto principal – o qual se deseja acompanhar o movimento – permaneça estático. Ou seja, não é uma decisão simples ou passível de fórmula. Vamos a alguns exemplos práticos de referência:
Não há muita regra para isto, mas geralmente regulamos o diafragma para algo entre f/11 e f/22. Até porque na maioria dos casos, com obturador lento, necessita-se compensar a grande entrada de luz com um diafragma mais fechado. Além do mais, isto também aumentará a profundidade de campo, importante para conseguir focar por completo o assunto principal.
Conforme dito acima, geralmente, neste tipo de fotografia, o diafragma é configurado mais fechado. Se a cena for capturada em grande angular, o conceito de hiper distância focal* deve ser utilizado e não há muita preocupação com perda de foco no assunto principal. Você pode, por exemplo, focar previamente no hiperfoco e alterar o foco para manual. Se você configura o botão de back focus em sua câmera, mais fácil ainda, nem precisa alternar para modo de foco manual.
Caso haja problemas com profundidade de campo, recomendo utilizar o foco contínuo, para que a câmera faça o rastreamento de foco a cada foto da sequência. Mas certifique-se de escolher o menor número de pontos de foco, para que o cálculo da câmera seja mais rápido.
*A hiper distância focal é um conceito de física e representa, resumidamente, a menor distância para se posicionar o anel de foco da lente, com garantia de extensão do foco até o infinito. Ou seja, caso seja escolhida uma distância menor que o hiperfoco, não haverá foco até o infinito. E, utilizando uma focagem além dele, o primeiro plano a ser focado será também mais distante.
Quanto ao ISO, o mais baixo possível. Se sua câmera possuir ISO 50, procure utilizar, se isto ajudar no balanceamento dos dois fatores acima.
Nas fotos 5 e 6, abaixo, utilizei um flash dedicado que, disparado remotamente via wireless, (também poderia ter sido feito conectado diretamente à câmera) me ajudou a congelar o movimento dos ciclistas, mesmo utilizando um tempo de obturador maior que nas fotos anteriores. Isto porque a luz do flash cumpriu a função de imobilizar o assunto principal, enquanto que as áreas onde sua luz não incidiu, ou incidiu de modo muito atenuado, ficaram bastante borradas, pois foram iluminadas basicamente pela luz natural.
A conclusão é que, usando o flash, você conseguirá utilizar um tempo de exposição bem maior, o que garantirá um melhor efeito de pannig, borrando mais o fundo, sem comprometer muito a estática desejada no assunto principal da foto. Capiche?
Note que em todas as imagens, as velocidades de obturador são relativamente pequenas. Quanto maior o tempo (ou seja, quanto menor a menor velocidade), mais você desfocará o fundo. Ótimo! O problema é que quanto maior o tempo, aumentam-se as dificuldades em não tremer a imagem e também em seguir exatamente o mesmo movimento do assunto da sua foto (o ciclista, o carro, o corredor, etc). Usar um tripé ou mesmo um monopé pode ajudar a minimizar a chance de você tremer a câmera. No artigo em que falei sobre a técnica de ZOOMING, comentei sobre o tripé que eu utilizo atualmente.
Perceba também, que mesmo usando um tempo idêntico de obturador (1/40seg), a foto 6 denota mais movimento que a quinta imagem. Isto porque a velocidade de deslocamento do ciclista na última foto era bem superior à foto 5, o que me obrigou a mover a câmera mais rapidamente para conseguir acompanhá-lo, o que por sua vez, faz borrar mais o fundo.
Especificamente na foto 6, ainda utilizei um recurso criativo adicional, que foi mover a câmera numa trajetória semi-circular, sem deixar de acompanhar o movimento do modelo, no sentido da direita para a esquerda. Percebam a diferença entre as duas imagens. O flash ajudou bastante, pois a velocidade de sua lâmpada é imensa, da ordem de décimos de milésimos de segundo. Assim, ele cria este efeito de congelamento da imagem. O ciclista, que recebeu quase toda a luz do flash disparado, teve seu movimento bem mais anulado que o restante da imagem.
Ficam algumas observações para uso em conjunto com flash: sugiro utilizar o flash em modo manual, para você poder testar previamente que potência funcionará melhor. E realizar esta imagem em um local com pouca luz natural incidente, como numa mata, por exemplo, facilitará o efeito. Se houver luz excessiva, você não conseguirá uma boa exposição da foto para tempos grandes de obturador, mesmo fechando ao máximo o diafragma da objetiva.
Existem também outras variações de panning. Por exemplo, nas duas fotos abaixo. Fiz como uma brincadeira apenas, durante uma visita ao centro histórico de Recife, dentro da Catedral de São Pedro. A baixa iluminação ao fundo, nas paredes da igreja, ajudou o efeito visual ficar mais interessante. O que eu fiz aí nestas fotos foi simplesmente segurar a câmera virada para mim e girar em torno de meu próprio eixo.
Veja como os tempos de exposição comandam o quanto o fundo da imagem irá borrar. Com 1/5 seg. o fundo se moveu bem mais que com 1/10 seg. Afinal, a imagem foi captada com o dobro do tempo. OBS: perceba a distorção na imagem causada pela ultra grande angular (especialmente o pescoço exagerado). 12mm em sensor APS-C. Neste caso, foi um ponto negativo, mas impossível de se evitar, pois uma distância focal maior, como 50mm, por exemplo, iria comprometer a proposta de mostrar o fundo da imagem, em movimento.
Normalmente, quando fazemos uma panning, o objetivo é ter alguma zona bem focada na imagem. Mas existem versões intencionalmente mais abstratas, numa leitura mais poética da imagem. Neste caso, a quantidade de movimento na imagem pode ser muito maior, onde a fotografia se assemelha mais a uma tela de pintura. Fotografando vida selvagem, é uma boa pedida para este tipo de efeito de panning.
Na prática, a idéia é utilizar tempos de exposição e/ou distâncias focais maiores, para potencializar os efeitos.
Bem, agora que você já entendeu a teoria e a lógica da coisa, só falta praticar. É aí que costuma complicar. E digo porquê: primeiro, a velocidade ideal de obturador irá variar para cada sequência, de acordo com o quão rápido se move seu assunto. Por isso, você provavelmente fará algumas fotos de teste até chegar num valor ótimo de obturador. Segundo, porque o sincronismo no movimento câmera/assunto é algo bem sensível.
Uma dica bem prática: ao avistar o assunto a ser fotografado, aponte sua câmera para ele, seguindo seu movimento por alguns segundos, o mais preciso possível e pressionando metade do botão de disparo, ainda sem fotografar. Este procedimento seria uma espécie de calibração, onde você ajusta a velocidade com que move seus braços ao movimento do assunto a ser fotografado. A seguir, quando você perceber que já tem o enquadramento procurado, comece a realizar os disparos, seguidamente.
Uma panning perfeita não é tarefa fácil. Mas se você se esforçar um bocado, certamente atingirá bons resultados. Abaixo dois exemplos de uma sequência, pelas ruas de Havana, em Cuba, feito em um de nossas expedições fotográficas pela ilha. No primeiro, o automóvel ficou bastante borrado. No segundo, o resultado já ficou consideravelmente melhor. Ambas as fotos tem a mesma exposição à luz. O que diferiu no resultado, foi simplesmente um melhor sincronismo ao seguir com a câmera o movimento do carro. Certamente, se eu tentasse mais vezes, poderia conseguir um panning ainda melhor. As chaves, para este tipo de fotografia, são paciência e treino. Só não se esqueça de caprichar na composição, ok ?
Última dica sobre panning: habilite a função disparo contínuo de sua câmera e faça várias fotos em cada sequência de movimentos. Maiores serão as chances de sucesso.
Quem tiver fotos assim, ou mesmo fizer seus testes, poste aqui nos comentários seus exemplos, será um prazer ver o trabalho de vocês!
Fico por aqui, amigos, um abraço e ótimas fotos a todos!
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Fotógrafo de paisagens e viagens. Sócio da Travessia Expedições Fotográficas, onde lidera roteiros exclusivos, compartilhando conhecimentos e experiências, pelo 4 cantos do mundo.