10 de outubro de 2019
A Sinfonia da Natureza
Texto de introdução por Tom Alves, relatos diários por Julius Dadalti.
Talvez a expedição mais marcante que já fizemos. As savanas do Quênia nos proporcionaram encontros com o que de mais puro há no planeta animal. A natureza selvagem. Pujante, absoluta, crua. Um espetáculo onde apenas os bichos são atores. E a natureza, por meio de planícies, campinas e rios, é o palco sagrado. Nós, meros humanos, minúsculos e impotentes diante de tremenda potência, fomos presenteados por poder assistir, na primeira fila, aquilo tudo. Espectadores ávidos pela sinfonia que rege vida e morte nas savanas africanas.
A seguir, um resumo dia a dia de nossa viagem pelo Parque Nacional Maasai Mara, em agosto de 2019.
DIA 1
Às 6:30 da manhã já estávamos frente a frente com uma família de leões. Ainda sem luz, com o sol ainda abaixo da linha do horizonte, pudemos observar machos jovens brincando e descansando do banquete noturno. Dois adultos ainda terminavam de devorar um antílope, observados de longe por hienas e abutres. Seguimos por entre as planícies do Masai Mara e agora com uma luz linda, observamos um solitário leopardo descer de sua árvore e se embrenhar nos arbustos. Que primeira manhã de Safari! Como planejado, lá pelas 9:30h, a famosa pausa para o merecido desjejum na savana. Milhares de gnus, que migraram da Tanzânia, pastavam próximos. Resolvemos neste primeiro dia quebrar a nossa jornada e retornar ao Lodge para almoço e pequeno descanso. O período da tarde foi igualmente produtivo. Zebras, gazelas e aquela paisagem de tirar o fôlego. Campos com vegetação verde e com um céu pra lá de azul. Após um pôr do sol com antílopes e búfalos no horizonte, terminamos a nossa primeira missão exaustos, mas extasiados com a força do Quênia.
DIA 2
Neste segundo dia, alteramos o nosso planejamento e resolvemos permanecer o dia inteiro na Savana. Café, almoço e lanches seriam servidos por lá. Mergulhamos no maior espetáculo da terra, a Migração de 1.200.000 gnus, zebras e antílopes, movimentando-se do Serengeti ao Masai Mara, orientados pelo volume de chuvas. Interessante o trajeto que percorrem todo ano, lembrando o movimento dos ponteiros de um relógio.
Tal qual o dia anterior, mal entramos no parque e fomos recepcionados por uma fantástica família de leões. Filhotões e aquela sonhada primeira luz. Parecia que teríamos outro dia parecido, pois logo surgiu um leopardo descansando na árvore isolada do campo. Acompanhamos uma pequena travessia de topis, zebras e gnus num pequeno riacho. Lá pelas 12:30, com a parada estratégica para almoço, conversamos sobre as fotos do dia, o que teríamos pela frente e ainda aproveitamos para registrar e observar os hipopótamos que estavam descansando nas margens do rio Mara, a uns 20 metros dos nossos Landcruisers. Ahhhh, Não podemos esquecer dos nossos guias, que além de motoristas eram Maasais da vila de Talek. Sabiam tudo!
Seguimos rastreando os animais e um grupo de guepardos escondia-se do sol nas sombras de pequenos arbustos. De repente, o nosso líder resolveu sair em disparada para outro ponto do rio Mara, explicando que poderíamos assistir a icônica travessia dos animais. Foi exatamente o que aconteceu. Centenas de zebras e gnus cruzavam as águas barrentas e eram devorados por crocodilos famintos. Cenas fortes, mas reais. Natureza em toda a sua força. Uma imagem marcada para todos foi a mãe zebra gritando da margem enquanto seu filhote era devorado por quatro répteis gigantes. Terminamos por ali com o coração sofrido e retornamos ao nosso camp após um dia pra lá de intenso.
DIA 3
Crianças guiam o gado da família durante a noite na reserva. Atividade extremamente perigosa, pois leões, leopardos e guepardos estão sempre por lá. Nessa manhã vimos um bezerro que foi esquecido e dois leões já acompanhavam bem próximos, quando os Maasai resolveram descer do Jeep e tocar o animal para fora dos limites do parque. O dia já começava forte! Encontramos um leopardo na árvore. Dessa vez uma fêmea linda, pequena e graciosa. Resolvemos esperar tentando posições mais fotogênicas do bicho. Foi o que aconteceu. Ela posou, desceu, caminhou nos campos verdes e resolveu escalar outra árvore. Centenas de disparos nas câmeras e olhares encantados com o início da manhã. Pausa para respirar e aquele cafezinho com frutas na savana. Eita vida difícil! Os guepardos unem-se em coalizões de três, quatro ou cinco machos para caçar. Encontramos um grupo desses. Observando impalas ao longe, descansavam sob o sol forte da África. Próximos a buracos de água, aguardavam camuflados na vegetação as gazelas desatentas. Com girafas, os grandes antílopes e elefantes no nosso caminho, a pausa estratégica para almoço. A uns quinhentos metros dali, nosso guia mostrava com binóculos, uns dez leões escondidos em arbustos. Risadas e aquele papo sobre fotografia com um cafezinho quente. À tarde, ainda aproveitamos um leopardo em contraluz. Sempre na árvore! Terminamos com um pôr do sol magnífico. A gigante bola dourada descendo por entre árvores isoladas da savana. Fotos e dia inesquecíveis.
DIA 4
Após dois dias inteiros dentro do Maasai Mara, resolvemos quebrar a rotina e dividirmos a jornada em duas etapas. Na parte da manhã, com a luz dourada, fotografamos três leoas devorando um gnu enquanto filhotes saltavam, pulavam de canto a outro e provocavam o pai impaciente. Ficamos por ali registrando as brincadeiras e rindo do agito e curiosidade dos jovens felinos. Gazelas, zebras e gnus, aos montes! Cliques, café e seguimos para a visita a tribo Maasai na comunidade de Talek. Recebidos com muito carinho, assistimos as danças desse povo forte e admirável. Conversa, fotos, compra de presentes e a despedida especial com cantos e abraços.
Um pausa para almoço, revisão do material registrado e pequeno descanso. Assim retornamos mais fortes para o período da tarde. Javalis, topis e gazelas de thomson. Girafas ao longe. No alto da árvore isolada e com um flash de fim de tarde, um leopardo macho devorava um impala. Saímos do parque com uma parada estratégica para fotos do pôr do sol. No jantar, um bom vinho para comemorar os dias maravilhosos.
DIA 5
Entramos na reserva com centenas de gnus correndo loucamente. Logo avistamos a coalizão de guepardos. Tudo indicava que teríamos aquela cena de caça tão esperada por nosso grupo! Decidimos aguardar por ali, espreitando os felinos, que logo voltaram a procurar comida. Corre daqui, cerca dali, estratégias sendo replanejadas e em alguns minutos, os instantes espetaculares da caçada certeira. Também conhecidos por cheetahs, os guepardos são os animais mais rápidos do planeta, podendo alcançar 120 km/h, nos sprints. Usando a estratégia de caça em grupo, mataram um impala a cem metros do nosso carro. Extremamente rápido, o líder foi impecável no ataque. O antílope foi devorado com hienas, abutres e cegonhas observando ao fundo. Em cerca de 30 minutos, os guepardos abandonaram a carcaça do pobre impala. As hienas trataram de devorar mais alguns restos. Estes animais possuem mandíbulas e dentes muito fortes, além um sistema digestivo que pode dissolver ossos. Por fim, os abutres, que definitivamente não estavam ali para o prato principal, se encarregaram de limpar a área, completamente! Seus estômagos produzem um suco gástrico tão potente que é capaz de matar até mesmo bactérias super poderosas, como o Antrax. Assim é o ciclo de vida e morte nas planícies do Mara. Uma cadeia fechada, onde cada animal possui seu papel muito bem definido e quase sempre em total equilíbrio com o ambiente.
Ainda pela manhã, vimos outra cena de caça, ao vivo! Uma leoa captura, também na primeira tentativa, um gnu a cinquenta metros dos jeeps. Os animais enxergam os veículos de safari como elementos neutros e o próprio carro foi usado como camuflagem para o bicho. Paisagens fortes e manhã intensa.
Nessa tarde de safari, ainda curtimos no caminho de retorno à nossa hospedagem, famílias de elefantes, búfalos, pássaros enormes chamados secretários, calaus e o lindo Grou-Coroado. E para não ser diferente, mais um por do sol espetacular.
DIA 6
Nosso último dia no Maasai Mara. E para nos despedirmos com chave de ouro da reserva, um voo de balão nos aguardava. Ter a perspectiva aérea da região é uma sensação sem igual. Enormes bandos de gnus, zebras e gazelas correndo… girafas e elefantes ao longe e o sol nascendo por detrás de nuvens coloridas. Não havia forma melhor para terminar esta jornada épica. Ainda fizemos mais três dias de safaris no Parque Nacional Amboseli, outra unidade de conservação Queniana. Mas vamos deixar este relato para uma próxima postagem.
Ah, e ano que vem tem mais! Voltaremos ao Maasai Mara em Agosto de 2020. Novamente, para presenciar a migração no Parque. Já estamos aqui ansiosos! Para mais informações sobre nosso roteiro, clique aqui neste –> LINK <–